The feeling begins

dança pra mim, Salomé!

Estudava na Escola de Teatro da UFBA. Estava no penúltimo semestre. Queria aprofundar o discurso sobre as inquietações que me tomavam. Acima de tudo essas inquietações falavam sobre os conflitos que nos rodeiam entre o que devemos e o que desejamos. Procurei muito um texto que me aprouvesse para que o palco abrigasse essa batalha. Demorou pra chegar. Meu professor de dramaturgia, Marcos Barbosa, com toda a sofisticada simplicidade que só os gênios possuem, me instigou a ler Salomé, ou Desejo de Salomé, do literata inglês Oscar Wilde. Novamente demorei. Fixada em Nelson Rodrigues e em sua inquisição as avessas. Primeiro Os Sete Gatinhos. Muito grande, muita gente, muitos lugares. A energia se dissiparia. Então, A Serpente, o menor e último texto escrito por Nelson. Caiu como uma luva. Cinco atores, um ambiente, que viria a reduzir ainda mais, para apenas uma cama. Não, não apenas. Uma cama pode ser um universo. Como o foi. Então, já apaixonada por cobras, árvores e irmãs, me permiti dar um pulinho na princesa da judéia e em sua perdição pelo primo de Jesus. Li. Cadê respiração? Descortinada na minha frente estava uma das histórias mais dolorosamente intensas que já tive notícia. E mais, havia vingança em cada página, em cada linha. Havia ali o autor, que falou comigo. Pedi tempo. Precisava me dedicar à minha pré-formatura. A Sala do Coro do TCA, e um violoncelo em cena, me aguardavam. Mas eu já pertencia a Oscar Wilde. Era só uma questão de movimento do mundo. Ou da lua.

A imagem em questão foi a primeira que habitou meu notebook. A princesa começava a dançar pra mim.

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