Professor Claudio Cajaíba fala sobre Salomé no Multicultura

O professor-doutor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Luiz Claudio Cajaíba, assistiu ao espetáculo Salomé, de Oscar Wilde e fez um comentário sobre a peça no programa Multicultura da Rádio Educadora (FM 107,5). O programa foi veículado no dia 11 de Fevereiro. O professor disponibilizou o comentário à Produção e compartilhamos agora com o mundo.

“Boa tarde ouvintes do Multicultura. Alô Boris, alô Márcia. Na última sexta-feira eu fui assistir no teatro Martim Gonçalves ao espetáculo Salomé, texto original de autoria de Oscar Wilde, que foi adaptado e recebeu a direção geral de Amanda Maia, como sua peça de graduação.

Salomé cumpriu uma curta temporada no ano passado, e devido a sua boa receptividade e boa qualidade de produção, voltou a cartaz para mais duas semanas, realizando duas sessões gratuitas por dia, devido ao grande acesso do público.

Amanda uniu a experiência da atriz veterana Joana Schnitman e do figurinista Hamilton Lima, a uma trupe de jovens talentos com a participação sofisticada de um grupo musical denominado Orquestra Invisível, sob direção de Ráiden Coelho.

Mesmo a pretexto do caráter didático, o resultado está à altura de muitos produtos considerados profissionais. Vários atores convidam e conduzem o público pouco a pouco a tomar seu lugar em almofadas no chão do próprio palco.

Após entrada, sob música executada ao vivo, cortinas esvoaçantes vermelhas se fecham, circundando a todos. Ao público são oferecidos então frutas e vinho, e uma orgia tem início, apelando aos sentidos visuais, auditivos e gustativos.

O mito de Salomé, de origem bíblica, recebe uma roupagem bem arrojada, discutindo, entre outras, questões como fé, puritanismo, desejo carnal, poder de sedução, limites entre o sagrado e o profano.

A beleza de Salomé, que enfeitiça a todos, é posta a prova pela fé de Jokanaan, que se recusa a se entregar a ela, mesmo possuído pelo desejo. A vingança da bela sedutora, após dançar e encantar o rei Herodes – que lhe oferece qualquer coisa em troca – é o pedido da cabeça do jovem santo numa bandeja de prata. Dessa forma ela pode dar o beijo que foi negado por ele.

O elenco de jovens atores foi bem conduzido pela diretora, que explora um tom dramático bem caricatural, o que soa estranho nos primeiros acordes, mas que logo se harmoniza com a música e com a movimentação corporal dos atores – caracterizada por certa mecanização e por traços coreográficos bem definidos.

O desempenho e a beleza da atriz Luisa Proserpio, que interpreta Salomé, são equivalentes e bem apropriados ao personagem. Ela consegue impor nuanças de interpretação e de fato seduz. Não foi a toa que recebeu a indicação ao prêmio Braskem de melhor atriz. Will Brandão, o outro protagonista, se apresenta com bastante impacto, com uma voz possante e uma entrada bem impressionante, mas ao se manter na permanente tensão, especialmente vocal, deixa de explorar nuances que poderiam enriquecer ainda mais o seu bom desempenho.

O elenco conta ainda com Antonio Fábio, Fábio Fernandes e Raphael Veloso. Além disso, doze atores bailarinos integram e preenchem a cena, colaborando intensivamente para o clima orgiástico, que dá tom ao espetáculo e atenua a carga dramática deste mito. Destaque-se ainda a singela presença da atriz Sibelle Lélis, que executa uma bela performance vocal, e a cenografia de Rodrigo Frota, que também mereceu indicação do Braskem como revelação por este e por outros cenários.

Temos assim, nessa ousada iniciativa da jovem diretora, a promessa de mais um talento para as artes cênicas da Bahia. E torço para que iniciativas como a de Amanda possam algum dia obter o reconhecimento e o apoio necessários, pois infelizmente, ainda é difícil unir talento, inteligência, capacidade de realização, perseverar e resistir diante da escassez de recursos destinados aos produtos artísticos que a nossa organização social compartilha atualmente.

Vou com isso então. Muito obrigado a todos, mais uma vez, pela atenção e até o próximo comentário.”

Cajaíba em Salomé

Na foto acima o professor Claudio Cajaíba (embaixo, à esquerda) observa o Corpo de Baile no espetáculo Salomé, de Oscar Wilde.

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